Missão impossível?

Hélio Bernardo Lopes
Escreve diariamente
Os mais atentos ao que corre o Mundo lembrar-se-ão ainda das reações suscitadas junto dos ambientes católicos progressistas ou de gente bem pensante – os designados intelectuais –, quando surgiram João Paulo II e, depois, Bento XVI: eram Papas pouco virados para uma mudança progressista. Invariavelmente, citavam-se os casos da falta de acesso das mulheres ao sacerdócio, do celibato dos padres, dos anticoncecionais, etc..

Surgiu o Papa Francisco e, num ápice, todas essas tomadas de posição, mesmo exigências, desapareceram. O Papa Francisco, sem nada mudar naqueles temas que eram apontados como de fronteira, é agora excecional. Para lá de tudo isto, paga contas do seu bolso, sai do seu carro para beijar crianças ou doentes, aponta graves erros ao Mundo, etc.. É claro que o Mundo vai de mal a pior, percebendo-se que a palavra do Papa, de facto, parece não fazer efeito. Que o digam os portugueses, hoje já sem Tróyka – saiu mas fica –, mas com um futuro garantidamente pior. E já para o ano de 1975.

Depois de se ter sabido, por via de acusação pública, que certo bispo alemão vivia num luxo pré-bizantino, eis que o cardeal Bertone tem, afinal, uma mansão de luxo. E mesmo ao lado da residência papal. Mais de dois milhões de euros, e vindos de quem fez um voto profundo de pobreza cristã... Depois de Francisco anunciar ao Mundo que quer uma Igreja pobre para os pobres, surgir um Bertone de dois milhões, bom, é caso para arregalarmos os olhos. Diga-se o que se disser, este caso, depois do alemão, nunca poderão deixar de suscitar raciocínios por indução experimental: imagina-se a luxúria de bispos e cardeais...

O interessante, em todos estes casos, é que nada disto foi descoberto pelas estruturas da Igreja Católica. Tudo se ficou a dever a denúncias públicas, ainda possíveis num Mundo onde a liberdade de informar continua bastante presente. O que prova a essencial falta de eficácia das estruturas da Igreja Católica para se autocontrolarem, mormente no essencial domínio do bom exemplo da pobreza cristã.

Mas será que a Cúria tem possibilidades de ser melhorada e humanizada? Tenho sérias reservas. Terá de se mexer em muita gente, muitos interesses, e, acima de tudo, fontes de financiamento da Igreja Católica, com os correspondentes negócios sobre tudo e por toda a parte. Onde o negócio possa ter lugar e com bom lucro.

Mas se por aqui o problema é este, já no domínio da pedofilia se está a estudar o tema. Houve mesmo já uma reunião de trabalho. Simplesmente, e como muito bem disse Bento XVI, o mal está dentro da própria Igreja Católica, por via da sua estrutura fechada e opacificada face ao Mundo e às instituições judiciárias. Sem o ser, a verdade é que a estrutura do Vaticano e da Igreja Católica acaba por funcionar como uma ditadura, o que torna muito difícil o seu funcionamento à luz das regras correntes de qualquer sistema de justiça. Mesmo a tomada de posição de Bento XVI só foi possível perante o que este já sabia poder estar a preparar-se ao seu redor e pelas dimensões atingidas pela onda pedófila na grande comunicação social mundial e nos tribunais dos Estados Unidos.

Poderão até vir a ter lugar algumas modificações na estrutura da Igreja Católica, mas é muito difícil pôr em funcionamento a estrutura pensada e desejada pelo Papa Francisco e ditada pela lógica das coisas. Será, porventura, uma missão impossível.

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