Avalanche

Hélio Bernardo Lopes
Escreve diariamente
De um modo absolutamente indubitável, tem vindo a ter lugar, nestas últimas duas semanas, uma verdadeira avalanche de droga em Portugal. Refiro-me, naturalmente, à apreendida, porque a noticiada mostra que a realidade é incomensuravelmente superior. 

Em si, é já um facto corrente, com picos frequentes, mas nada que seja fora do comum. Por um acaso, como penso dar-se, a visibilidade ao nível da capital do País, que é onde resido, não tem sido tão grande como noutras ocasiões, embora tenham existido dias, sem nenhuma caraterística realmente singular, em que a generalidade das pessoas publicamente conhecidas desapareceram, numa situação que é indiscutivelmente estranha...

Graças à grande comunicação social livre, que ainda se mantém – até já se fala em mudar a avaliação dos mecanismos de aferição da inconstitucionalidade dos diplomas...–, vai-se tomando conhecimento das constantes apreensões de estupefacientes em Portugal, bem como o que se passa fora do País, mas envolvendo concidadãos nossos.

Tal como pude já escrever por vezes diversas, e à semelhança de sucessivos relatórios norte-americanos sobre o tema, Portugal continua a ser a grande porta de entrada destas matérias no espaço europeu, com especial ênfase para os provenientes do subcontinente americano, mas também de muitos territórios da África Ocidental. E, como também pude já escrever, os estupefacientes que aqui entram e se distribuem por essa Europa fora, vão sendo, paradoxalmente, um dos grandes suportes sociais em face da enorme pobreza em que se vive hoje entre nós.

Dia que chega, e eis que a grande comunicação social de novo nos traz mais novidades sobre descobertas ou apreensões de estupefacientes em Portugal. Fosse difícil fazê-los entrar aqui e transferi-los para o espaço europeu, e de há muito os grandes produtores mundiais tinham posto um cobro em tal realidade. Pelo contrário: não param as apreensões, o que significa que o caudal, com picos aqui ou ali, se mantém. Somos um verdadeiro canal sem ruído neste domínio.

E todo o cuidado é pouco, nestes dias de pobreza material e moral. Os raros que se atrevem a chamar a atenção para esta baixa realidade social, acabam por ser alvo de raivinhas de dentes pelo lado dos membros das quadrilhas que mexem em tais produtos.

Infelizmente, as novas tecnologias dão uma excelente ajuda à bandidagem, como há dias pude ver com um qualquer bandideco, como se estivesse a olhar o ecrã do seu telemóvel, mas em que a lente estava no lado de cima, virado para mim. Mas também pela incapacidade em descobrir quem ataca sítios oficiais.

Para já não referir o histórico caso do nosso concidadão, Palito, que vem conseguindo pôr as nossas autoridades na sua peugada por semanas a fio. Um verdadeiro ninja, capaz de fazer inveja às aventuras de Chuck Norris, que se mostra nos ecrãs como um amador ao pé do nosso já famoso, Palito.

Enfim, é o desenrolar do estertor da III República, só possível pela falta de consensos de longo prazo entre as diversas forças políticas. Mas, vá lá, continuaremos a dispor da democracia, autêntico valor supremo dos mais poderosos da nossa sociedade. Sim, nós temos a democracia.

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