Recordando Jorge Santos

Hélio Bernardo LopesEscreve diariamente
O falecimento recente do antigo pugilista norte-americano, Rubin Hurricane Carter, que passou quase vinte anos numa prisão dos Estados Unidos, trouxe-me ao pensamento o caso do nosso concidadão, Jorge Santos.

Hurricane foi alvo de um julgamento considerado racista, com jurados apenas brancos. Sempre Hurricane se declarou inocente das acusações de que foi alvo, mas a verdade é que o júri considerou-o culpado, por duas vezes, pela morte de três brancos, num bar de New Jersey. Simultaneamente, foi condenado também um outro negro.

Em 1995, um juiz federal anulou a segunda sentença que condenou Hurricane, por tê-la considerado marcada por fatores racistas. Tinham passado, no entretanto, pouco menos de duas décadas. Uma violação de Direitos Humanos praticada pela máquina judiciária norte-americana, mais uma vez sobre um negro, e que acabou por levar à criação de uma canção de Bob Dylan e de um filme em 1999.

Esta é a máquina policial e judiciária que tentou voltar a prender o nosso concidadão, Jorge Santos, tendo eu salientado, ao tempo da polémica em Portugal, que o caso poderia mesmo estar manchado de racismo, até por estar este ainda presente no tecido social norte-americano quando Jorge Santos era jovem. De resto, essa marca continua presente e só muito dificilmente será cabalmente extirpável.

Quem já teve contacto com a cultura norte-americana, seja pela literatura ou pelo cinema, ou por ter estado nos Estados Unidos ou ter aqui família, conhece o grau de violência que impregna toda a sociedade norte-americana. Uma situação de que nos vão chegando ecos em quase todas as semanas. Uma sociedade onde a barbárie pode surgir a cada esquina.

Muito recentemente foram assassinadas três pessoas num lar de idosos judaicos, por um doa imensos loucos que polvilham as ruas e as cidades norte-americanas. Este gritou, nos termos do noticiado, Heil Hitler! Simplesmente, este homicida tem…setenta anos!! Numa outra cidade, foi presa uma mulher por ter assassinado sete bebés seus filhos. A uma primeira vista, nada faria a vizinhança pensar que um tal horror pudesse ter lugar com a referida senhora. Dois casos a que se podem juntar todos os restantes, a um ritmo semanal, que se vão conhecendo no seio da sociedade norte-americana.

Termino este texto muito breve, também simples, com a chamada de atenção para mais este caso, desta vez com o histórico Hurricane. Terá tido um azar similar ao de Jorge Santos, mas faltou-lhe a audácia deste último. E também a sorte de ter os nossos desembargadores de Lisboa a decidir o seu caso com o humanismo lusitano que ainda se mantém.

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