![]() |
| Hélio Bernardo Lopes Escreve diariamente |
Tudo não terá passado de um ajuste de contas, ou de um aviso, a familiares dessas crianças, todos ligados a gangues que atuam na região. É o dia a dia da vida nos Estados Unidos. Uma sociedade nascida na violência e que se desenvolveu sempre, precisamente, por essa via.
De resto, neste passado fim de semana, lá morreram mais nove americanos, ao mesmo tempo que trinta e seis ficaram feridos. E tudo por via de crimes praticados com essa grande conquista dos norte-americanos, e que são as armas de fogo. Uma sociedade terrivelmente doente, nascida na violência e onde, de um modo ou de outro, de facto, a dignidade da vida humana nunca foi um dado com grande importância. Infelizmente, estamos agora a receber os primeiros impactos derivados da adoção de sucessivas medidas deste tipo de sociedade. O resultado, como se vai sentindo na carne de cada português – há uma minoria que vive disto mesmo –, já está presente aqui e cada dia mais.
Mas, apesar disto tudo, sempre há norte-americanos com bom senso. Um deles é o antigo presidente Jimmy Carter. Num encontro com estudantes, destinado a promover o respeito dos direitos humanos em todo o Mundo, lá mostrou o seu bom senso, defendendo que o Ocidente não deve impor sanções que afetem o povo russo por causa das ações dos seus líderes na Ucrânia. E salientou que se deve evitar ir tão longe que se acabe por impor sanções ao próprio povo russo.
Carter, que se viu, tal como os Estados Unidos, atraiçoado por Reagan e Bush com o caso dos reféns norte-americanos no Irão, percebe muitíssimo bem que a Rússia sempre considerou a Crimeia como parte sua. Por isso, nunca pensou que alguma coisa pudesse ter sido feita pelos Estados Unidos ou pelos países europeus ou por quaisquer outros para impedir uma tal eventualidade.
Por fim, Jimmy Carter defendeu que deve ser permitido aos ucranianos decidirem o seu próprio destino, esperando que o povo ucraniano seja apoiado pela Rússia, a leste, e pelos Estados Unidos e União Europeia, a ocidente, para que não seja dividido entre os dois. É difícil ter mais razão, mas como acreditar nela com um Ocidente que criou o que se tem podido ver na Ucrânia, depois do que já havia feito na antiga Jugoslávia? E não vai já o Papa Francisco receber um dos fantoches ucranianos, que se alcandorou ao poder por via do derrube de quem havia sido legitimamente eleito? Proselitismo e guerra religiosa...
O espetacular, no meio de tudo isto, é poder ouvir agora John Kerry, Secretário de Estado dos Estados Unidos, como que descobrir a pólvora: as relações internacionais eram mais fáceis de gerir durante o período da Guerra Fria do que atualmente. Faltou-lhe dizer, na enunciação deste pensamento profundo, que essa facilidade era ainda maior quando em Washington lideravam os republicanos.
Como sempre pude facilmente perceber – eu e todos os portugueses interessados no que se desenrolava no Mundo –, durante a Guerra Fria, e talvez isso não fosse óbvio para os grandes líderes daquela época, era mais fácil do que hoje a política internacional.
Mais fácil e muitíssimo menos perigosa. Hoje, graças à terrível ação de Reagam, de Thatcher e de João Paulo II, o Mundo encontra-se incomensuravelmente em maior risco, e a todos os níveis, do que se dava ao tempo da Guerra Fria. Tudo estava bem, quase sem outras guerras que não as promovidas pelos Estados Unidos depois do final da Segunda Guerra Mundial, até ao surgimento do grande idiota e traidor que foi Gorbachev. Hoje, como costumo dizer, tem-se a democracia por quase todo o Mundo, mas também uma terrível incerteza, medo e perigo. Até temos o Papa Francisco, mas o pior pode surgir a qualquer momento. Esta é que é a grande realidade, mas que Kerry parece só agora ter percebido.
