O PS deverá vencer as eleições

Hélio Bernardo Lopes
Escreve diariamente
Há muito que me não chegavam ecos de intervenções públicas de Luís Amado, claramente reconhecido no ambiente político como um estrénuo socialista democrático, e mesmo dos quatro costados.

Esta raridade presencial, de parceria com a fortíssima correlação entre a substância do discurso e a realidade política razoavelmente previsível a curto prazo, levam-me agora a concluir que o PS deverá vir a ser o partido vencedor das próximas eleições para o Parlamento Europeu, e talvez também, com probabilidade elevada, das legislativas que logo surgirão.

Especificando um pouco melhor, estas palavras de agora de Luís Amado seriam de todo em todo inúteis se fosse previsível uma vitória do PSD. Pelo contrário: o seu surgimento, sob a forma de entrevista a dois órgãos de comunicação social muito ligados às posições da atual Maioria-Governo-Presidente, constituem uma forte indicação de que o PS deverá sair vencedor desta mais próxima peleja eleitoral, assim aumentando a probabilidade de vir a vencer as eleições para deputados à Assembleia da República que logo se seguirão. Aceitando claramente este raciocínio, compreendem-se as palavras de Luís Amado, segundo as quais o País aprendeu com os erros. Lançando mão do estafado argumento das reformas estruturais, lá nos expõe que tivemos durante muitos anos governos minoritários, que tiveram dificuldade em imprimir à ação governativa, uma linha de estabilidade e de coerência programática e política que pudessem resolver alguns problemas estruturais do País. Vejamos, então, esta sua exposição de ideias e factos. Tivemos o Segundo Governo Constitucional que foi de maioria. Tivemos, depois, a Aliança Democrática que por igual foi de maioria. Tivemos o Governo do Bloco Central, também de maioria. Tivemos dois Governos de Cavaco Silva com maioria. Tivemos o Governo de António Guterres que por igual o foi. Depois os de Durão Barroso e Santana Lopes, também de maioria. O de José Sócrates, de amplíssima maioria. E agora este, também de maioria, mas que nos conduziu ao desastre expectável desde sempre com uma Maioria-Governo-Presidente de direita. Raros e curtíssimos foram os casos de Governos minoritários. Malgrado toda esta conhecidíssima realidade, perante a evidência da vitória do PS, e em face da feliz recusa deste partido perante a ratoeira do consenso, Luís Amado postula que o próximo Executivo poderá ser outra coligação, mas tem que haver um governo de maioria. E explica-se: ninguém duvida hoje que não haverá condições, nem nenhum Presidente da República dará posse a um Governo minoritário no atual contexto. Terá de ser assim, ou o Presidente da República poderá mesmo escolher um Governo de sua iniciativa. Mas a verdade é que assim não pensou, com José Sócrates, o Presidente Cavaco Silva. Será que irá mudar o seu pensamento desta vez? Um pouco adiante, Luís Amado explica que um Governo democrático tem que dar uma garantia de estabilidade, sem a qual é muito difícil resolver os problemas do País.

Precisamente o que se deu com o atual Governo, com as mil e uma saídas e entradas e mesmo com decisões irrevogáveis-revogáveis. Imagina-se facilmente o que não iria ter lugar com a salganhada imaginada por Luís Amado, suportada numa coligação PS/PSD, de que o PS sairia sempre, em qualquer circunstância, como perdedor... Pois não conhecemos já nós e bem a História da III República em Portugal?

Também defende um programa cautelar após a saída da Tróyka, mas a objetiva verdade é que os países que alumiam duas vezes não deverão estar virados para aí. Até porque sabem que a nossa classe política da III República se acabou por estruturar como correia de transmissão das modas surgidas nos seus territórios. Uma classe política que é hoje um autêntico canal sem ruído dentro da política europeia, ela também completamente à deriva.

Dado que a partir de maio, Portugal entra num processo em que todas as cautelas são necessárias para garantir que o risco político não desencadeia uma pressão no aumento das taxas de juro para o futuro, Luís Amado, naturalmente, continuará a pensar que continuar no charco político do euro, e mesmo da União Europeia, serão males menores. Deixámos de ser, de facto, autodeterminados, ao ponto de termos de limitar as propostas políticas que até possam ser exequíveis, só para evitar os riscos da instabilidade dos mercados.

A tudo isto, Luís Amado ainda junta que a Comissão Europeia foi muito subalternizada no processo de reabilitação da crise do euro e da crise europeia e que deveria ter tido um papel muito mais ativo e muito mais liderante dos interesses em confronto na representação, sobretudo, dos países mais fracos e em situação mais frágil.

Aparentemente, Luís Amado deverá acreditar que o Secretário-Geral das Nações Unidas manda realmente, mesmo que seja pouco. Mas chega mesmo mais longe, porque logo complementa que a Comissão falhou sobretudo na ênfase que era necessário dar, com o apoio aos programas de ajustamento e com uma forte intervenção corretora do exercício de ajustamento que era imposto aos países. E conclui, sem dúvida de um modo sublime, com ideia de que era preciso eventualmente ter afrontado a Alemanha. Sublime!

Mas o título deste texto, como expus de início, deve ter razão, porque também António Costa nos surgiu agora a salientar que é importante para o País que haja dinâmicas de alternativa e de formulação de políticas alternativas, mas há entendimentos que devemos ter comuns sobre um conjunto de matérias. Uma estratégia, portanto. E que estratégia?

Bom, a estratégia para o País se restabelecer da crise, e que deveria ter sido a primeira matéria em que era essencial restabelecer-se um consenso.

Especificando melhor, António Costa garantiu que o grau de consensualização é absolutamente essencial, porque há um conjunto de políticas que requerem estabilidade. E sobre o que irão incidir essas políticas? Bom, sobre a melhoria da qualidade das instituições, de que salientou a Justiça, o Território e a acalmia e pacificação em torno da Segurança Social, do Serviço Nacional de Saúde ou da Escola Pública.

Simplesmente, a generalidade destas áreas foi já amplamente destruída, não sendo de acreditar que numa coligação PS/PSD este último possa voltar atrás no que já destruiu e sempre para si constituiu um objetivo.

Estranhamente, certamente por razões de discurso circunstancial, António Costa disse que foi muito importante para o País, durante anos, ter um grande consenso sobre o processo de integração europeia. Mas consenso como, se os portugueses nunca foram auscultados em tal domínio?! Alguém acredita que a classe política atual teria a coragem de auscultar o sentimento nacional em torno da manutenção do euro como moeda nacional? Claro que não! Pelo contrário: o reconhecimento da perda de confiança na classe política e nas instituições é já tal, que de pronto surgiu essa antidemocrática ideia de impor o voto como obrigatório... O pânico é total!

Tal como sempre teve lugar durante estas quatro décadas da III República, o PS, se não conseguir uma maioria absoluta, acabará sempre por se coligar com o PSD, e isso tem um preço, qual é o de deixar a destruição criada no Estado Social sem mudanças. De outro modo, essa coligação não surgirá. E é bom não esquecer as palavras de Adelino Amaro da Costa, mal caiu o Segundo Governo Constitucional: juntámo-nos a eles para os destruir.

E também não imaginar que os dirigentes de hoje do PS têm o arcaboiço de Diogo Freitas do Amaral, que já teve a lucidez de perceber que uma coligação PS/PCP é possível e faz falta ao País. É pedir muito aos dirigentes do PS.

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