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Hélio Bernardo Lopes Escreve diariamente |
Hoje, muitas décadas passadas sobre esta conversa, eu já não tenho dúvida: a reação racista é natural, mas tem de ser combatida desde a escola, também através da grande comunicação social, por via de efemérides especialmente viradas para o despertar dos males que comporta e por uma legislação apertada e exigente.
O mesmo se dá, por exemplo, com o ecumenismo, uma vez que, como penso já todos terem percebido, a convivência entre religiões distintas é possível, mas não se os de alguma delas se aperceberem de que esse ecumenismo tem como finalidade absorver a sua religião por uma outra. O que se passou com a antiga Jugoslávia, bem como o papel dos croatas na Segunda Guerra Mundial, ou o que está a passar-se na Ucrânia, mostram que a guerra do centro católico ocidental contra os do rito oriental – ortodoxos – é uma realidade. E uma realidade terrivelmente sangrenta. E é conveniente não esquecer nunca o papel dos católicos no apoio ao nazismo durante aquele conflito e logo depois do mesmo ter visto o seu fim bélico.
Vem tudo isto a propósito do que teve lugar com Nelson Évora numa qualquer discoteca, creio que de Lisboa. Segundo o que me foi transmitido, a explicação dada foi a de que era muito grande o número de pretos no grupo aniversariante que o acompanhava e que tal poderia suscitar uma reação junto da comunidade tradicional da referida discoteca. Se assim foi, bom, é verdadeiramente lamentável e mais ainda repugnante. A uma primeira vista, parece dever existir percentagens por etnia.
Mas o mais interessante foi que Nelson Évora salientou ter esta sido a primeira vez, em vinte e três anos de vida em Lisboa, em que sentiu uma atitude racista. Com mesas reservadas para a efeméride, eram dezasseis os convivas, que acabaram por não entrar, indo realizar o jantar-convívio num outro lugar. E continua a mostrar-se português e com amor a Portugal.
Em contrapartida, no campeonato norte-americano de basquetebol o dono de certa equipa teve uma inacreditável conversa racista com a sua namorada, pedindo-lhe que nunca aparecesse ao lado de negros, por muito referentes que fossem no plano social. Podia mesmo fazer tudo o que lhe apetecesse, mas devia evitar aparecer em público com tais companhias. Naturalmente, o caso indignou a generalidade dos norte-americanos, incluindo, claro está, Barack Obama.
Num ápice, a liderança do campeonato norte-americano de basquetebol tomou a decisão que se impõe numa sociedade que tem uma política oficial e a deseja pôr em prática: expulsou-o para sempre do campeonato de basquetebol e aplicou-lhe a multa gigantesca de um milhão e oitocentos mil euros.
Aqui estão duas atitudes da mesma natureza, mas com desfechos distintos. Entre nós, pois, tudo numa boa, incluindo por parte do próprio Nelson Évora, que se limitou a esquecer o que se passou. O que permitirá, num dia destes, que uma tal cena se repita com quem quer que seja. Faz lembrar aqueles nossos concidadãos que colocavam o seu dinheiro fora do País, pagando o que era devido e um pouco mais, se fossem descobertos, mas podendo continuar como até aí, tentando, na próxima, não serem descobertos. Dois casos que mostram a superioridade, nesta situação, dos norte-americanos face a todos nós. E – não irrelevante – nem um só político surgiu a assumir uma posição sobre esta lamentável e repugnante atitude. É mais um sinal do tempo que passa, por cá e pela União Europeia. Outra vez...