Hélio Bernardo Lopes Escreve diariamente |
Mas o objetivo é também estudar o papel dos grupos económicos na preparação do golpe militar e na condução da ação da ditadura que se lhe seguiu. E pretende, igualmente, estudar o modo como se desenrolou o património das empresas desses grupos económicos. De resto, o próprio financiamento da ditadura militar também tem vindo a ser estudado pela Comissão da Verdade do Brasil, posta em funcionamento no ano passado com a finalidade de investigar os crimes do tempo da ditadura.
A grande novidade desta iniciativa de agora é identificar o papel dos grandes grupos económicos brasileiros no golpe e no funcionamento da ditadura militar. E até estrangeiros. Ora, tudo isto me trouxe ao pensamento a Revolução de 25 de Abril, e, acima de tudo, a extinção e o desmantelamento da Direção-Geral de Segurança e da Legião Portuguesa.
No nosso caso de há quarenta anos, apenas alguns detentores de soberania – Presidentes do Conselho e Ministros do Interior – foram abrangidos pela aplicação da designada Lei 08/75, tal como os funcionários da Direção-Geral de Segurança e os seus colaboradores em domínios de natureza política. Ao contrário do que ainda chegou a ser equacionado, o levantamento das empresas, ou grupos económicos, que usaram os serviços da DGS ou com ela colaboraram, nunca foram estudados e muito menos presentes a juízo. E o mesmo se deu com a Legião Portuguesa e com a Comissão de Censura.
Seria muito interessante, e até útil, que os estudiosos da História da II República – estou a recordar-me de Irene Flunser Pimentel, entre outros historiadores – se determinassem a estudar estes temas que envolvem a intervenção das empresas e dos grandes grupos económicos tiveram em termos de ligações com a Direção-Geral de Segurança e polícias predecessoras. Mas haverá coragem, entre nós, para se atuar neste domínio? Não acredito. Temos uma maneira própria de estar na vida...