Hélio Bernardo Lopes Escreve diariamente |
Recordo até que foi chamada a minha atenção para os riscos de abordar um tal tema naquele meu texto. Em todo o caso, e mesmo tendo em conta o estado moral do Portugal destes dias, esse risco é ainda muito reduzido quando comparado com o existente noutras praças sociais do nosso Mundo.
Com alguma admiração, eis que fui ontem encontrar no Diário de Notícias o facto de ter sido detido em Lisboa, creio que à saída de certo navio de cruzeiros, um cidadão estrangeiro que consigo transportaria cerca de quatro quilogramas e meio de cocaína.
Tendo eu sempre imaginado que tal prática teria de ser coisa frequente e natural, e nunca tendo tido conhecimento de uma tal notícia em Portugal, aquela admiração foi logo seguida de uma outra expiração falada: caramba, até que enfim! Veremos, pois, ao que virá a chegar-se sobre tal realidade.
A notícia referia ainda que a Polícia Judiciária pensará estar-se perante um novo modus operandi de introdução de estupefacientes na Europa. Simplesmente, se tal constitui, de facto, o pensamento daquela polícia, tenho de concluir que se trata de uma visão errada do problema. E porquê, perguntará o leitor?
A razão é simples e foi para mim sempre evidente, tendo esta evidência sido a razão daquele meu texto já antigo: um cruzeiro, tal como excursões de tipo diverso, terá, naturalmente, de ser um modo fortemente garantido de fazer entrar drogas diversas oriundas de lugares variados do Mundo, os lugares por onde esse navio de cruzeiro possa ter passado. Se a memória me não atraiçoa, eu referi até o caso de viagens à Antártida.
O que esta detenção vem mostrar é a validade da conclusão da Polícia Judiciária, exceto no respeitante ao qualificativo de novo modus operandi. Não pode ser coisa nova, como se torna evidente. Tem de ser uma prática já muito antiga, porque a não ser assim, estar-se-ia perante um acontecimento completamente novo e logo descoberto pelas nossas autoridades à primeira. A probabilidade de um tal cenário estar correto é imensamente pequena, como se pode estimar facilmente.
Do mesmo modo, pareceu-me inteiramente acertada a intervenção recente da GNR em carreiras diversas de combóio. E quem diz combóio, diz autocarros de viagens longas, ou excursões pelo País ou pelo estrangeiro. Muito em especial naqueles casos em que algumas referências morais antigas, ainda clássicas, farão pensar não ser o tráfico de estupefacientes coisa aí expectável...
A este propósito, foi muito interessante a recente descoberta de preservativos destinados a alguém que os iria levantar na estação de correios do Vaticano, mas que nunca apareceu a fazê-lo. Esses preservativos haviam sido descobertos na Alemanha e estavam carregados de uma qualquer droga. As autoridades alemãs mantiveram a embalagem, apenas deixando passar uma ínfima quantidade do produto em causa. Debalde.
Tratou-se, claro está, de uma prova de noves, mas que nada permitiu concluir. Simplesmente, este resultado, em minha opinião, mostrou uma coisa: deverá existir no seio da polícia alemã alguém que informou sobre a descoberta. E se a polícia alemã tiver informado as suas congéneres italiana ou vaticana da tal prova de noves, bom, foi pior a emenda que o soneto.
Enfim, tal como um relatório recente das Nações Unidas veio reconhecer, a guerra internacional contra as drogas falhou. Impõe-se procurar um outro caminho. Mas será que existe interesse em ir por aí? Muito sinceramente, não acredito.