Bazófias

Hélio bernardo Lopes
As palavras de ontem de Barack Obama, ao redor do caso das tropas da Rússia se encontrarem junto da fronteira com a Ucrânia e perto da Crimeia constituem a intervenção típica de um bazófias.

É claro que eu reconheço que a política reveste uma enorme carga de insinuação e de manipulação, de factos e de intenções, mas, ainda assim, um líder com um mínimo de caráter deve evitar tiradas bazófias, como as de ontem do presidente norte-americano. Analisemos, de novo, a situação que se criou.

Em primeiro lugar, o Ocidente e os seus bancos – e que moral, que ética! – nunca puseram em causa as eleições que conduziram Yanukovitch ao poder. Preparavam-se, até, para assinar com a Ucrânia um regime de parceria, situação em que tudo seria ouro sobre azul, com as melhores relações entre os diversos países em jogo.

Em segundo lugar, tudo mudou mal se percebeu que a possibilidade da União Europeia poder explorar a população e as riquezas ucranianas viria a ser posta em causa com a viragem do presidente ucraniano para a Rússia. Num ápice, Yanukovitch passou a ser o mau da fita, que até se viu forçado a fugir do seu país, depois de perceber que o acordo que estabelecera com os líderes da oposição caíra completamente em perda perante a arruça comandada pelo Ocidente.

Em terceiro lugar, perante tal realidade e em face da História da Rússia e da Crimeia, a primeira percebeu que teria de intervir rapidamente, ou correria o risco de perder a sua antiga Crimeia e o suporte estratégico essencial que sempre ali possuiu. E tudo decorreu linearmente, sem complicações. Operou-se um referendo cujo resultado, em função da distribuição populacional, foi o que pôde ver-se.

Em quarto lugar, esta nova situação teria de ser protegida ao nível militar, o que levou a Rússia a colocar ao longo da fronteira com a Ucrânia e nas imediações da Crimeia os tais apregoados milhares de militares e de equipamento.

E, em quinto lugar, os Estados Unidos conhecem já muitíssimo bem que a Rússia não vai atirar-se militarmente à Ucrânia em qualquer outro lugar. Além do mais, quem for russo e se sentir mal na Ucrânia, pode perfeitamente passar para a Crimeia, porventura para outro território russo.

Perante toda esta realidade, percebe-se facilmente que as palavras de ontem de Barack Obama mais não são que bazófias: falar da prontidão da OTAN perante novas ameaças da Rússia, quando sabe perfeitamente que a Rússia já terminou a sua ação e não pretende ameaçar ninguém mais.

Mas há um dado que é certo: o Ocidente – os Estados Unidos ou a Alemanha – podem tentar algo de semelhante ao que fizeram os nazis com a Polónia, de molde a poderem criar um possível confronto ao nível daquela região. É por isso que ali se encontram as tais tropas russas. Além do mais, o Ocidente percebe agora que, afinal, até os militares da Ucrânia na Crimeia se passaram maciçamente para a órbita das forças militares da Rússia.

Por fim, três notas. Designar a Rússia como potência regional é mais uma bazófia, porque, perante a História Russa, naturalmente, não ofende quem quer. Depois, o papel da China, ao convidar, nesta fase, a ridícula visita de Michele Obama, mas que permite compreender o estertor da esquerda mundial perante o capitalismo ocidental comandado pelos Estados Unidos. E, mesmo por fim, seria bom que Barack Obama tivesse um mínimo de vergonha perante a prolongada violação de direitos humanos em Guantánamo, um dos seus grandes falhanços perante todo o Mundo. Bazófias.

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