É uma exposição sentida pelos autores que ao longo de muitos dias percorreram o Vale do Tua para recolherem impressões que já sentem como nostalgia.
“Alma Tua” é uma exposição conjunta de Norberto Valério e Miguel Gomes, congregando num mesmo espaço sentimentos que nascem da imagem e da palavra.
O projecto “Alma Tua” (em defesa do Vale do rio Tua), após ter estado patente ao público na Casa da Juventude de Rio Tinto, veio agora agora para o Museu Municipal Armindo Teixeira Lopes, em Mirandela, num formato mais alargado.
Sobre a essência deste projecto comum nada melhor que atentar nas palavras dos dois autores.
O Sonho
“Poderia ter sido outro olhar, outra mão, qualquer trejeito de gente com alma dentro encontraria o que vimos: um homem, vários mundos num só vale que vale por todos. Tralhão vive num lugar moribundo, habita um local onde não correm os dias. A chegada de um comboio com pessoas dentro significa a partida dos seus poemas que troca pelas paisagens, até ao dia em que as suas paisagens se convertem nos olhares de quem não vê.
Cadente cai-lhe nos braços e no coração para beber os locais que nunca verá. À sua cegueira sucumbem os dias e noites de quem se sabe viver no final de um túnel.
Com o carinho de quem se vê mundo no mundo, segura nos braços as memórias de quem foi, revendo na escuridão de um dia sem amanhã as imagens que trocou por um punhado de letras, num desfiar de pequenos nadas que fazem o todo.
São uns poucos destes pequenos nadas que encontra nesta exposição, uma pequena amostra de um projecto (esta exposição é uma janela, um apeadeiro, na linha maior que se compõe por um conto, fotografia e poesia) nascido há anos, de um sonho de sempre: esgrafiar em papel e na pele a salvaguarda do nordeste transmontano, nomeadamente o vale do Tua, o seu rio, a sua linha, as suas gentes. Ameaçados que estão pelos sucessivos abandonos do poder central e pela construção de uma barragem, uma espécie de nevoeiro que teima em semear nas manhãs de Trás-os-Montes.
Acompanhe a história na estória, o poema na paisagem, numa viagem pelo imaginário de dois olhares e quatro mãos ao longo de uma linha, que transporta um pouco mais que Pessoas: a Alma de um Povo quase esquecido...”.
Os autores
Fotografia – Noberto Valério
“Ainda se recorda do dia, criança ainda, em que viu a primeira máquina fotográfica.
Parecia magia, as coisas que aquele simples objecto prometia. A fotografia foi sempre algo especial, que aqui e ali espicaçava a curiosidade e promovia a experimentação.
Foi na ilha de São Miguel, que descobriu que a obra de Deus era por demais grandiosa e indescritível, havia que a gravar em algo palpável que a pudesse eternizar.
Com o regresso ao continente português surgiu a vontade de colmatar uma dívida para com Trás-os-Montes.
Uma região tão especial e tão pouco retratada.
O comboio, desde pequeno que lhe preenchia o imaginário, lá de onde o avistava, no alto da colina, entre as oliveiras em fruto.
Construía e imaginava histórias com aquelas vidas, simples silhuetas que iam e vinham, ali ao fundo do
outro lado do rio, junto à estação.
O vale do Tua foi um abraço, a tudo o que de melhor têm e representam as suas paisagens”.
Texto - Miguel Gomes
“Com poucos anos de encadernação descobriu em 26 cubos de madeira, de pinho, refira-se, o expoente para a base da vida.
A timidez das palavras esconde-as foneticamente, remetendo para a imaginação ou para o papel um peculiar modo de tentar compreender as equações da vida.
Trás-os-Montes é uma letra que resume todas as palavras dos Mundos, um local perdido onde convergem os que procuram perder-se.
O comboio é o soletrado imaginário de um vidro embaciado, umas côdeas duras e um pano branco nas mãos rugosas de quem não se lê.
O Tua é Alma, nua, como quem vive montando cubos ou vidas nas melodias que resistem. É silêncio e lágrima.
É vale e rio onde se formam as palavras que se apagam ao vazio.
À medida que o tempo avançava e o caminho abandonado de cascalho, carris e travessas, ficava para trás, o que era um projecto tornava-se em sonho, palpável e objectivo.
Percorrer a linha do comboio, falar com um punhado de pessoas, semear aqui e ali uma fotografia ou deixar gravada numa travessa um poema avulso, tudo se transforma numa vontade de preservar aquilo que, vem desaparecendo: o sorriso digno dos transmontanos em geral e dos habitantes dos concelhos directamente afectados pelo assassínio da linha do Tua em particular.
É impossível, quando se veste um pouco mais de alma, ficar indiferente à beleza do Vale do Tua.
É impossível, quando se ouvem Pessoas, ficar indiferente ao grito mudo de gentes com a porta sempre aberta.
Sem arrogâncias ou falsas modéstias, este projecto tem como Sonho preservar a imagem do vale do Tua.
Esperamos que o visitante possa encontrar um pouco daquilo que os autores viram, mas, acima de tudo, possam entrar no mundo daquilo que sentiram e que está por detrás dos pigmentos das cores ou das curvas das letras.
Que não morra em nós, nunca, a força de lutar pelo que é nosso, salvando-nos do abandono e das mãos tiranas que de longe manobram os fios com que tentam enforcar um povo."
Consulte aqui o projecto online
“Alma Tua” é uma exposição conjunta de Norberto Valério e Miguel Gomes, congregando num mesmo espaço sentimentos que nascem da imagem e da palavra.
O projecto “Alma Tua” (em defesa do Vale do rio Tua), após ter estado patente ao público na Casa da Juventude de Rio Tinto, veio agora agora para o Museu Municipal Armindo Teixeira Lopes, em Mirandela, num formato mais alargado.
Sobre a essência deste projecto comum nada melhor que atentar nas palavras dos dois autores.
O Sonho
“Poderia ter sido outro olhar, outra mão, qualquer trejeito de gente com alma dentro encontraria o que vimos: um homem, vários mundos num só vale que vale por todos. Tralhão vive num lugar moribundo, habita um local onde não correm os dias. A chegada de um comboio com pessoas dentro significa a partida dos seus poemas que troca pelas paisagens, até ao dia em que as suas paisagens se convertem nos olhares de quem não vê.
Cadente cai-lhe nos braços e no coração para beber os locais que nunca verá. À sua cegueira sucumbem os dias e noites de quem se sabe viver no final de um túnel.
Com o carinho de quem se vê mundo no mundo, segura nos braços as memórias de quem foi, revendo na escuridão de um dia sem amanhã as imagens que trocou por um punhado de letras, num desfiar de pequenos nadas que fazem o todo.
São uns poucos destes pequenos nadas que encontra nesta exposição, uma pequena amostra de um projecto (esta exposição é uma janela, um apeadeiro, na linha maior que se compõe por um conto, fotografia e poesia) nascido há anos, de um sonho de sempre: esgrafiar em papel e na pele a salvaguarda do nordeste transmontano, nomeadamente o vale do Tua, o seu rio, a sua linha, as suas gentes. Ameaçados que estão pelos sucessivos abandonos do poder central e pela construção de uma barragem, uma espécie de nevoeiro que teima em semear nas manhãs de Trás-os-Montes.
Acompanhe a história na estória, o poema na paisagem, numa viagem pelo imaginário de dois olhares e quatro mãos ao longo de uma linha, que transporta um pouco mais que Pessoas: a Alma de um Povo quase esquecido...”.
Os autores
Fotografia – Noberto Valério
“Ainda se recorda do dia, criança ainda, em que viu a primeira máquina fotográfica.
Parecia magia, as coisas que aquele simples objecto prometia. A fotografia foi sempre algo especial, que aqui e ali espicaçava a curiosidade e promovia a experimentação.
Foi na ilha de São Miguel, que descobriu que a obra de Deus era por demais grandiosa e indescritível, havia que a gravar em algo palpável que a pudesse eternizar.
Com o regresso ao continente português surgiu a vontade de colmatar uma dívida para com Trás-os-Montes.
Uma região tão especial e tão pouco retratada.
O comboio, desde pequeno que lhe preenchia o imaginário, lá de onde o avistava, no alto da colina, entre as oliveiras em fruto.
Construía e imaginava histórias com aquelas vidas, simples silhuetas que iam e vinham, ali ao fundo do
outro lado do rio, junto à estação.
O vale do Tua foi um abraço, a tudo o que de melhor têm e representam as suas paisagens”.
Texto - Miguel Gomes
“Com poucos anos de encadernação descobriu em 26 cubos de madeira, de pinho, refira-se, o expoente para a base da vida.
A timidez das palavras esconde-as foneticamente, remetendo para a imaginação ou para o papel um peculiar modo de tentar compreender as equações da vida.
Trás-os-Montes é uma letra que resume todas as palavras dos Mundos, um local perdido onde convergem os que procuram perder-se.
O comboio é o soletrado imaginário de um vidro embaciado, umas côdeas duras e um pano branco nas mãos rugosas de quem não se lê.
O Tua é Alma, nua, como quem vive montando cubos ou vidas nas melodias que resistem. É silêncio e lágrima.
É vale e rio onde se formam as palavras que se apagam ao vazio.
À medida que o tempo avançava e o caminho abandonado de cascalho, carris e travessas, ficava para trás, o que era um projecto tornava-se em sonho, palpável e objectivo.
Percorrer a linha do comboio, falar com um punhado de pessoas, semear aqui e ali uma fotografia ou deixar gravada numa travessa um poema avulso, tudo se transforma numa vontade de preservar aquilo que, vem desaparecendo: o sorriso digno dos transmontanos em geral e dos habitantes dos concelhos directamente afectados pelo assassínio da linha do Tua em particular.
É impossível, quando se veste um pouco mais de alma, ficar indiferente à beleza do Vale do Tua.
É impossível, quando se ouvem Pessoas, ficar indiferente ao grito mudo de gentes com a porta sempre aberta.
Sem arrogâncias ou falsas modéstias, este projecto tem como Sonho preservar a imagem do vale do Tua.
Esperamos que o visitante possa encontrar um pouco daquilo que os autores viram, mas, acima de tudo, possam entrar no mundo daquilo que sentiram e que está por detrás dos pigmentos das cores ou das curvas das letras.
Que não morra em nós, nunca, a força de lutar pelo que é nosso, salvando-nos do abandono e das mãos tiranas que de longe manobram os fios com que tentam enforcar um povo."
Consulte aqui o projecto online