Opinião NN: O novo tabu

Quem possa ter um dia pensado que os tabus eram um exclusivo de Aníbal Cavaco Silva, pois, enganou-se redondamente. Aí estão, e bem ao vivo, Mário Soares e a direção do seu partido a mostrarem-nos que, de parceria com o atual Presidente da República, se resolveram também a manter um tabu sobre a candidatura presidencial de Manuel Alegre.

De Mário Soares, bom, um tal tabu ainda se pode compreender, depois de Manuel Alegre ter tido a ousadia de concorrer ao Presidente da República, mas, acima de tudo, pela copiosa derrota que sofreu, nos planos absoluto e relativo. Acima de todos, face a Manuel Alegre.

Em contrapartida, já é mais estranho, até caricato, este tabu da atual direção socialista, pela razão simples de que o PSD não ficaria muito melhor colocado se por acaso Aníbal Cavaco Silva agora comunicasse aos portugueses que, por razões suas e ponderáveis, não voltaria a
candidatar-se.

A verdade, por muito que tal nos custe, é que o PSD e o CDS/PP não deixariam de apresentar um candidato presidencial com a credibilidade e o carisma suficientes para que essa grande franja da nossa direita se não visse humilhada na eleição presidencial.

Desde Marcelo Rebelo de Sousa a Paulo Portas, essa direita não teria dificuldade em sair de uma tal alhada, e certamente até com um bom resultado na primeira volta, resultado que nunca desmereceria nenhum dos partidos ou os seus eleitores naturais.

Inacreditavelmente, José Sócrates e o seu partido mostram-se incapazes de assumir uma decisão frontal sobre a candidatura presidencial de Manuel Alegre, assim criando um novo tabu, mas acabando por mostrar à generalidade dos portugueses que a solução com que parecem contemporizar é a que já se mostrou não o ser.

É verdade que Aníbal Cavaco Silva não governa, mas sempre se disse que com a sua presença em Belém a situação dos portugueses estaria acrescidamente acautelada, o que se sabe hoje não ter tido lugar. Do
mesmo modo que se percebeu, e muitíssimo bem, que o grande problema do País, para lá das suas constantes históricas inamovíveis, é um problema de alma, digamos assim.

Com Aníbal Cavaco Silva como Presidente da República, não só a situação financeira, económica e social se tornou um descalabro, fruto da crise internacional, como a descrença dos portugueses nas instituições da República se acentuou para níveis nunca vistos anteriormente.

Não creio estar errado se disser que a atual crise de valores no seio da comunidade portuguesa desde há perto de oitenta anos que não assumia um tão terrível cenário. Mais: essa crise acentuou-se, acima de tudo, depois que teve lugar a crise mundial, sem que o Presidente Cavaco Silva tivesse conseguido abordar o problema para lá de meras intervenções de natureza técnico-económica.

Mostra, pois, este tabu de José Sócrates e da direção do seu partido, em torno da campanha supra-partidária de Manuel Alegre - virada, pois, para a Nação e para os portugueses -, que está para crescer a responsabilidade política por um desastre nacional a prazo curto. Este é um dos momentos em que um político tem que ser corajoso, podendo ganhar ou perder, mas defendendo claramente um separar de águas que quase desapareceu.

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